Único dos 417 municípios baianos onde o presidenciável Aécio Neves (PSDB) superou a candidata Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno das eleições, Buerarema (454 Km de Salvador) vive há dez anos sob tensa disputa entre produtores rurais e indígenas tupinambás. Os primeiros perderam propriedades rurais, invadidas pelos índios que, por sua vez, reivindicam o direito à terra.
Basta breve conversa com moradores do município para compreender aquilo que qualificam como falta de dedicação do governo federal para solucionar o impasse. Esse foi o estopim para Aécio ter obtido 66,63% dos votos válidos, em Buerarema ante 25,74% de Dilma. Dos 10.720 eleitores, votaram 9.217.
A pendenga sobre regularização da demarcação de terras na região se arrasta no Ministério da Justiça (MJ) sem resolução há anos. Procurado, o Ministério não retornou até o fechamento desta edição.
O mapa eleitoral de Buerarema ficou tão evidente após o primeiro turno que o governador Jaques Wagner (PT) já anunciou que irá ao município esta semana.
Fato é que as consequências do embate entre índios e agricultores têm devastado as vidas dos cerca de 19 mil habitantes, que se dizem sem alternativa em meio a casos de assassinatos – cujas investigações não dão em nada -, economia enfraquecida, desemprego, fome, falta de moradia e êxodo.
Ao longo dessa semana, a equipe de reportagem de A TARDE esteve na região cacaueira onde constatou que o sentimento geral dos habitantes dessa pequena cidade é de que o governo federal pouco ou quase nada fez para minimizar o conflito.
Crimes
Os conflitos se intensificaram no decorrer do último ano, mesmo antes da morte do produtor Juraci de Santana, assassinado em fevereiro deste ano, após emboscada no assentamento rural Ipiranga, no distrito de Vila Brasil, município de Una.
O caso, até hoje não foi solucionado pela Policia Federal, gerou uma onda de protestos e destruição do comercio local, numa tentativa desesperada dos moradores para chamar a atenção de Brasília sobre esse drama peculiar no território baiano.
Os produtores rurais, com ajuda dos partidos de oposição na cidade, iniciaram uma feroz propaganda pela candidatura tucana, encampada pelo produtor Manoel Messias, 66 anos, que foi escorraçado da propriedade de 26 hectares pelos índios.
O fato ocorreu no ano passado, quando dez homens encapuzados lhe invadiram a propriedade de onde tirava o sustento da família, com a venda de cacau, seringa, banana e mandioca, tempos em que chegava a faturar mais de R$ 5 mil mensais.
Promessas
“Passei seis meses dormindo na praça, num barraco de lona, pedindo esmolas. Minha netinha perguntava: vovô, o senhor virou mendigo, foi? Mal assino meu nome, só sei trabalhar na terra. Tem dias que penso em me matar”, disse, esvaído em choro.
No início do ano, Messias e outros produtores locais foram a Brasília apelar ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por auxílio emergencial de cestas básicas às famílias desabrigadas e por uma solução quanto às reintegrações de posse.
Messias diz que, por conta do que chama de descaso do governo, uma comitiva de produtores enviou documento para o comitê de campanha de Aécio Neves para formalizar apoio em troca de uma solução, mas ainda não obtiveram resposta.
Cacique Babau
O personagem central dessa trama envolvendo as terras da região é Rosivaldo Ferreira Silva, o cacique tupinambá Babau, 40 anos, que vive incrustado na mata da Serra do Padeiro, a 17 km da sede de Buerarema, numa área entre Ilhéus e Una.
A cereja do bolo compreende uma área reivindicada ainda em 1927, quando o então Ministério da Guerra decretou posse de 50 léguas em quadro de terra (ou nove milhões de hectares) para os povos tupinambá, pataxó e aricobé no sul da Bahia.
“As terras são nossas desde o descobrimento do Brasil. Nós ainda optamos por não pedir a demarcação completa”, diz Babau. Ele nega as acusações dos produtores rurais. “Quanto às retomadas de terra, não ocupamos propriedades habitadas, apenas as que estavam vazias”, defende-se.
Babau, assim como os demais tupinambás da região, é persona non grata na cidade de Buerarema. À frente dos indígenas, Babau é tido como partícipe e mandante das mortes ocorridas nas propriedades rurais, mesmo sem comprovação da polícia.
“Buerarema sempre foi um reduto de coronéis, que foi montada estrategicamente no ponto central da região, para impedir o progresso dos povos indígenas”, disparou e continuou: “Existe um núcleo financiado na cidade para defender o carlismo”.
Votos
Babau diz que apoia os governos do PT. Mas frisa que, apesar disso, todos indígenas brasileiros estão insatisfeitos com a política de demarcação, que “ficou estagnada” durante a gestão de Dilma.
Segundo ele, os tupinambás não votaram nas últimas eleições presidenciais, por que tiveram os títulos cancelados. Em Buerarema houve recadastramento biométrico. Quem não se recadastrou, não pôde votar. Babau interpreta de outra forma: “Por que sabem que temos força política. Para nós, tanto faz Dilma ou Aécio no poder. Ambos terão de cumprir a lei”.
Com ajuda de políticos, Babau promoveu uma revolução na aldeia, nos últimos anos, cuja população saiu do analfabetismo e alcançou a internet. A aldeia possui posto de saúde, biblioteca, centro de informática, berçário, creche, escola com 660 alunos e curso superior a distância.
São 217 famílias na aldeia, que tem 95% das casas com água encanada e sobrevive da renda com a produção de abacaxi, cacau, banana, farinha e seringa. A aldeia também foi contemplada com 50 casas do “Minha Casa, Minha Vida”.
“No governo Fernando Henrique, andávamos 18 km, a pé, para ir à escola. Essa realidade mudou. As pessoas daqui acham que, para ser índio, tem que andar maltrapilho e com a cuia na mão. Não querem ver o pobre progredir. Por isso, que eles, os produtores, estão com raiva”.
Fonte:Atarde
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